A)Lembro-me que o título do primeiro livro que me foi dado para ler era "Cuore" (coração), contos que historiavam os feitos heróicos de crianças antes, durante e depois da primeira guerra mundial. Em um deles a mãe morrera, e a partir daquela leitura, que repeti mais e mais vezes, passei a desconfiar que perderia minha ainda criança.
B)Os vai e vem da vida fizeram com que muitos anos após estarmos no Brasil meu pai se mudasse para o Rio de Janeiro. Por não gozar de boa saúde, vez ou outra eu e meu irmão íamos visitá-lo. Em uma destas ocasiões nos disse que um amigo o levara a frequentar um centro de umbanda para fazer um tratamento espiritual, atendimento este que naquela noite tinha outra seção. Nos, por sermos Católicos Apostólicos convictos, não aceitávamos a existência de espíritos, aliás, nos recusamos a ouvir quando disse que passara a se sentir melhor após se sujeitar aquele tipo de cura. Pai, está louco. Só no Brasil existem estas teorias. Ele insistiu tanto que resolvemos acompanhá-lo. Está claro desde já, repeti, que não iremos entrar. Vamos te aguardar no carro até você voltar.
Chegamos em Madureira e em seguida a em um grande gramado onde havia uma casa iluminada de onde vinham sons de cantos e batuques. Ele foi e nos permanecemos. Passaram 15 minutos, e, ei-lo de volta acompanhado por três indivíduos de branco. Pensei... não dá para confiar nem no pai!
Após as apresentações, um deles nos perguntou porque não o havíamos acompanhado. Somos católicos Apostólicos Romanos, respondi. Não aceitamos estas coisas como vinda de Deus. E se não são de Deus.....
O diálogo continuou educadamente do lado dele, e com uma certa agressividade do meu, até que inquiriu novamente. Você ora. Claro, respondi. Ora para quem? Para Deus, Jesus, Nossa Senhora. Se sente seguro quando ora ? Sim, respondi, tenho certeza que sobrevivi á guerra devido as minhas orações. Então, se você nos acompanhar, e, enquanto estiver conosco, orar, vai se sentir seguro? Sim, respondi... sem perceber que caíra em uma cilada.
Uma vez no centro nos colocaram no meio de uma roda de pessoas "tomadas" que cantavam, bebiam e fumavam. Em seguida, mesmo orando a mil, senti uma sensação que nunca experimentara. Incorporara
Findo o culto nos acompanharam até o carro e ao se despedir um dele sublinhou. Você é médium, amigo. Tem que usar tua mediunidade para ajudar o próximo. Se não o fizer pode se dar mal. Dias depois, em São Paulo esqueci o episódio.
C)Casei, separei, e anos depois meu sogro faleceu. Fui ao enterro, e quando o caixão foi aberto na capela do cemitério para a última despedida eu me encontrava a alguns metros conversando com amigos, quando as palavras "Giancarlo, você está separado mas por favor cuida da minha filha" ecoaram alto e bom som na minha mente. Pó, estávamos falando a respeito da noite anterior, noite em que havíamos estado em uma festa, portanto nem de longe estava pensando no ex sogro. Como, então, ouvira aquilo. Devia estar louco, pensei.
D)Em 1975 conclui a construção de uma linda casa, e nela, uma suite adicional para hospedar meu pai vez que prometera vir a habitar conosco. Uma promessa que apesar de insistente jamais cumprira. Para não dar trabalho, dizia, e permanecia no Rio de Janeiro sozinho.
No ano seguinte, no meu aniversário, me passaram o telefone dizendo: uma ligação do Rio. Atendi crendo que era meu pai para me parabenizar..... Enganara-me, era um amigo dele para comunicar que falecera.
Fomos ao Rio para o funeral e dois dias após, em casa, passando ao lado da suite que construíra para ele, senti a sua presença. A certeza de que ele estava lá era tão irrefutável que me assustou, amedrontou por refletir uma manifestação pós morte na qual não acreditava. Tentei, mas não consegui entrar.
Mais três dias e a presença dele sumira. Fiquei em paz porque passei a crer que, como os Evangelhos relatam que três dias após a morte Jesus ressuscitara, pensei que acontecera o mesmo com ele.
E) Cerca de dez anos depois aluguei um imóvel para abrir uma pequena empresa porque aquela em que eu era diretor estava sendo levada a falência. Por mais que procurasse, nenhum imóvel me atraia, até que uma manhã, indo direto para a Vila Mariana, me vi em frente a uma casa que me atraiu. Entrei, e, mesmo tendo um grande salão parcialmente destruído, a aluguei sem pestanejar. Ao conhecer os vizinhos, depois disso, fui informado que naquela casa nenhuma empresa ia para a frente, e quem destruíra parcialmente o salão fora o último locatário em um acesso de raiva. Eu, entretanto, desde que a alugara, me sentia muito bem dentro dela, como se emanasse paz. Era Novembro de 1991.
Uma noite, indo para casa por volta das 22:00 horas, fui envolvido por uma sensação, uma percepção de que algo grave iria me acontecer naquela noite. Por precaução passei a dirigir cercando-me de cuidados. Mantinha-me a direita, olhando repetidamente para todos os lados para me acautelar. E quando a distância percebia que o semáforo não estaria a meu favor ao chegar a ele, diminuía a marcha até ter noção que podia seguir.
Na Rua Américo Brasiliense, em Sto. Amaro, mesmo dirigindo defensivamente, tendo a favor a luz que emanava da Sabesp, quando acelerei porque em segundo o farol ficaria a meu favor, algo bateu no carro. Olhei de soslaio sem para de acelerar, para frações de segundo após me dar conta que havia um indivíduo com uma arma na mão. Tarde demais. Houve um tiro, o vidro a minha esquerda estilhaçara.....e em segundos, cientificando-me que estava fora do alcance de um, novo disparo de graças a Deus porque não havia sido atingido.
Crera isso porque nenhuma dor sentira, mas, agora iluminado pelas lâmpadas da Av. Sto. Amaro vi minha camisa ensanguentada. Assustado, virei o carro e adentrei no hospital ali sediado. Foi atendido, medicado e, mesmo sem entender porque um dos médicos queria me internar, me deram alta pedindo para que no dia seguinte fosse a um hospital do meu convénio para os curativos. Levei um susto porque quando a enfermeira disse que havia três buracos de bala, também informou que isso significava que a bala permanecia no corpo. No braço esquerdo, na altura do coração, a bala entrara e, ao sair, continuara seu trajeto adentrando no tórax. O chefe da cirurgia, chamado as pressa, pediu a realização de uma radiografia de hora em hora. Quando meu relógio indicava 18:00 horas, quer dizer, dez horas sem me alimentar ou beber, retornou com as radiografias na mão para me dizer que passaria por uma cirurgia cirurgia. O escopo era o de verificar se a bala, que após atravessar o tórax se alojara sobre o rim direito, causara ferimentos em minhas entranhas. Milagre, não.
Na manhã seguinte veio ao quarto e disse: "se nem São Pedro te quer, te dou alta. Permaneça em repouso por uma semana, porém." Agora vou te dizer uma coisa que jamais vai esquecer: você não morreu porque Deus não quis, sua mão deve ter manuseado o prejétil. Aliás, como ninguém sobrevive a um ferimento deste, por ser professor na Sta Casa, se me autorizar vou utilizar seus exames em minhas aulas. Anui.
Ao longo dos dias seguintes, em repouso, suas palavras: "você não morreu porque Deus não quis", permaneceram ecoando na minha mente, até que conclui que o destino continuava a cuidar de mim. Mas, algo me perturbava. Se eu tivesse morrido, teria ido embora sem nada obrar em favor do próximo, aliás, ao contrário, porque nos papeis profissionais que exercera sempre fora muito intransigente. Assim, a minha percepção em relação ao universo que orbitava ao meu redor começou a mudar. Mudou com tamanha magnitude que quando retornei ao imóvel que havia alugado, onde antes do acidente me sentia em plena paz, comecei a "ver" coisas que jamais sonhara e que contrariavam frontalmente o credo da minha religião. Via espíritos na casa inteira, entidades que me diziam curto e grosso que devia deixar a casa porque era deles. E na medida em que não acreditava no que via, passei a ser perseguido por elas, assim como meus funcionários. Os clientes, então, segundos depois de entrarem, por não se sentirem bem, saiam. Descobrira porque nenhuma empresa parava no local e não para até hoje.
O espírito daquele que havia sido o dono da casa, um velho italiano que morrera nela porque a família, segundo ele, não queria gastar mantendo-o no hospital, dizia: "tem que sair. A casa é minha, tenho documentos que comprovam isso. Agradeceu quando foi pintada, alertando, porém, que se não saísse as coisas iriam piorar para mim.
Via, ouvia, portanto tinha que acreditar, mas me recusava a isso. Por conseguinte fui até a Igreja de São Judas e pedi ajuda a um padre exorcista. Foi, fez o trabalho dele, molhou a casa com água benzida, mas quando saiu sentia-se mal. Ao voltar, simplesmente fui agredido como até então não havia sido. Não dava para permanecer no recinto da casa.
Para me ajudaram levaram-me a um centro de umbanda, entretanto, logo mais deixei de frequentá-lo por não me sentir a vontade, entre outras coisas, porque a entidade que passara a me acompanhar agredia todos os que permaneciam por algum tempo do meu lado direito. Quem permanecia segundos após passava a sofrer fortes dores de cabeça.
Foi a vez da Federação Espírita. Fui e permaneci por algum tempo. Palestras, passes, Evangelho no lar, orações, contudo, "eles" ficavam cada vez mais agressivos mesmo se entre eles havia alguém que tentava me ajudar. Tentava, porque em seguida apanhava também. Quando relatei a uma senhora que o trabalho da Federação Espírita em nada ajudara, me levou ao diretor mediúnico da instituição André Luíz. No fim do diálogo disse-me que algumas entidades haviam se manifestado e prometido ir embora, mas, completou, por ser médium você tem que trabalhar para ajudar o próximo, assim vai encontrar ajuda. Nenhuma mudança....
Se passasse a frequentar um centro cardecista, diziam, encontraria a solução. Permaneci em um deles por alguns meses até outro frequentador, que se tornara amigo, dizendo-me: aqui a "lixa é muito fina", me levou a outro. Esse organizou uma seção de desobsessão na casa. Aprendi, com isso, que desobsessão nada mais é do que um trabalho de evangelização, e só as entidades sofredoras, aquelas que, por crer em Deus, entendem que evangelizando-se encontrarão amparo no alto. Infelizmente as ruins, as malignas, permanecem e ficam ainda mais agressivas. Aparentemente não havia solução, mas, teimoso, permaneci no imóvel. Continuei até, como acontecera com meus antecessores, ter que encerrar as atividades.
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