sábado, 29 de janeiro de 2011

3) ANUINDO

Fechei a empresa, sofrendo as consequências financeiras correspondentes, e continuei frequentando o centro. Terças feiras: educação mediúnica. Quintas: palestras, tornando-me orador e passista. Sextas: desobsessão e sábados a tarde visita a enfermos.
Foi numa quinta feira, no tempo em que ainda não começara a trabalhar, que presenciei uma cena tocante. Dois rapazes, da equipe de visitas, entraram carregando uma moça tetraplégica, ao redor de 28 anos, para assistir a palestra da noite.
Desloquei-me até ela para ajudar, porque seu pescoço não segurava a cabeça, e quando a palestra terminou perguntei-lhe o nome, se apreciara a palestra e se os rapazes a levavam ao centro de contínuo. A Lucídia, esse era seu nome, disse-me que era a primeira vez, que gostara, mas que eles não tinham como buscá-la, carregá-la e retorná-la todas as quintas feiras, mesmo porque os 76 degráus que havia para descer e subir eram muito cansativos. Moro com minha mãe, uma senhora idosa que, além de me alimentar, vestir e banhar, nada pode fazer.
Sem me dar conta disso verbalizei: se quiser a partir da próxima quinta vou te buscar e levar de volta. Olhou bem nos meus olhos e respondeu: tem certeza que quer isso? Confirmei.
Se era relativamente fácil descer os 76 degraus com ela no colo, subi-los, ao retornar, com certeza não era. Mesmo assim, prazeirosamente, fiz isso por cerca de três anos. Só parei quando ela o pediu.
Cerca de dois anos mais tarde, uma sexta a noite, enquanto envolvido por uma entidade dava passe após a desobsessão, ela me perguntou: "VOCÊ GOSTARIA DE TENTAR TRABALHAR COMIGO? DISSE TENTAR PORQUE NÃO É FÁCIL. É NECESSÁRIO QUE HAJA MUITO INTERESSE DE TUA PARTE E AFINIDADE ENTRE OS DOIS." Indaguei, quem é você? Dr. Émil Coué, respondeu. Claro que sim, respondi sem esitar.
As escuras? Não, porque naquele centro ele era conhecido mesmo se não lá não desenvolvia nenhum trabalho. Interviera para salvar um diretor do centro que estava enfermo e desenganado pela medicina. Se alguém quiser saber mais basta acessar: http://metodologiacurativa.blogspot.com/, ou ler a seu respeito em uma enciclopédia qualquer.
Meses após, uma noite, enquanto levava a moça para casa, o Émil perguntou: Giancarlo, gostaria de ajudar a Lúcidia? Sim disse. Sugeriu que adquirisse o livro "Magnetismo Espiritual", pelo espírito Michaelus, e o estudasse. Semanas mais tarde iniciou o tratamento com magnetizações. Cerca de três meses depois começou a se movimentar e logo mais passou a se vestir e se alimentar sozinha. Quando levada ao chuveiro, tomava banho também.
Para que pudesse se levantar, sem a ajuda da mãe, idosa, pousemos uma cadeira ao lado da cama com 20 tijolos empilhados sobre o assento. Tempos depois, após se levantar, pegava o andador que lhe fora regalado e andava pela casa.
Um sábado a tarde, quando a visitamos, a encontramos louquinha para relatar o que acontecera.
Gian, ontem, depois de muitos anos, o padre da minha igreja veio nos visitar. Deixara de fazê-lo devido a uma enfermidade. Quando entrou, Gian, levantei da cama e, segurando-me na cadeira, correspondi ao seu abraço. Soluçava. Ai, quis saber o que acontecera comigo. Lucídia, repetia, eu vinha aqui aos domingos para orar contigo, te comungar e pedir a Deus e te fizesse andar. Mas nada aconteceu! O que houve.
Sabe, Gian, eu fiquei com medo, medo porque você é espírita e ele é um padre católico. Só que ele insistiu tanto que acabei falando de você e tudo aquilo que você fez por mim. Gian, chorando ele disse. Filha, Deus é um só. O moço fez aquilo que eu não consegui. Se estivesse aqui, agora, nos três, juntos, agradeceríamos ao pai mais uma vez.
Corriam seis meses, quando, continuando a visitá-la ao sábados, a encontramos desesperada. Chorava e dizia que tinha que nos contar algo que não queria. Não queria, mas precisava por causa da mãe.
Gian, finalmente disse. Lembra da história do padre? Pois bem ele foi substituído por outro jovem. Visitou-me ontem e quis conhecer a minha história. Iniciei relatando que oito anos atrás, por ter desmaiado enquanto trabalhava, fui levada ao hospital. Que naquele nosocômio sofri uma cirurgia no cérebro para extrair um tumor e que seis meses depois, quando me deram alta, eu era tetrapégica. Relatei, ainda, tudo o que dissera ao padre que ele substituiu por achar que a atitude dele seria a mesma. Deus não é um só? Devia ter calado a respeito da última parte, porque ele ficou zangado. Falou, falou, e terminou dizendo que eu devia escolher. Ou continuar indo ao centro com você e ter teu tratamento, ou ficar com Deus, porque Ele, através da comunhão, me curaria de vez.
Ai, Gian, minha mãe, que até aquele momento ficara quieta, virou para o padre e disse que era ele, e não você, que queria receber em sua casa. Desculpa, Gian. Obrigado por tudo aquilo que fez por mim finalizou chorando. Por favor, não volte mais.
Um anos depois fomos lhe fazer uma visita. Não era mais a mesma Lucídia em termos de alegria, e infelizmente regredira. Este foi o meu batísmo de médium de cura.
Por serem os homens, em sua maioria, seres imperfeitos, o pessoal daquele centro, como o padre jovem, achou que a evolução da Lucídia se dera por causas naturais. Se assim não fosse, diziam, teria sido o médico espiritual do centro, não o Dr. Émil, a curá-la. Haviam "esquecido" que o relato dos socorristas que visitavam a Lucídia antes dela passar ao meu grupo, esclarecia que até aquela data, desde que recebera alta do hospital, nem sequer conseguia se alimentar sozinha. Dependia da mãe em tudo e de uma irmã que só conseguía visitá-la uma vez por semana.
Outras ocorrência, entretanto, somaram-se antes que os meus mentores, agora três, me solicitassem deixar aquele centro espírita. Deixá-lo, após dez anos de trabalho. As instituições, diziam, quais quer que elas sejam, religiosas, científicas, de ensino etc.etc., para algumas pessoas representam tão somente o início do aprendizagem. Há indivíduos que "dentro de si" possuem a catapulta que os lança sempre mais adiante. Einstein, por exemplo, com 15 anos, antes mesmo de frequentar a escola, já se dedicava ao estudo da velocidade da luz. Afirmava que se uma astronave, voando a velocidade dela, levasse um gémeo ao espaço, este se manteria mais jovem do que seu irmão na Terra.
Aquele centro, aos sábados a tarde, recebia cerca de 200 crianças para evangelizar e as diretoras daquela atividades eram duas moças contando entre 23 a 25 anos. Hora, duzentas crianças, sentadas lado a lado no mesmo espaço dificilmente permanecem quietas. Por isso, as duas moças nem sempre conseguíam manter o comportamento mais adequado com elas. Foi assim que uma tarde, ao presenciar certas atitudes, permiti-me dizer-lhes: Se estivesse aqui o cara que disse "deixai vir a mim as criancinhas", com certeza desaprovaria o comportamento de hoje. Eu não sou Jesus Cristo, respondeu-me uma delas alto e bom tom. E naquele fim de tarde, ao retornar, o presidente me chamou para dizer: Sr. Giancarlo, a mas moças tem razão, nos não somo Jesus Cristo.
Claro, repliquei, mas, quando uma instituição como essa ensina o evangelho, o escopo não é ensinar seus preceitos? Então, claro que não somos Ele, mas temos a obrigação de aprendermos seus ensinamentos. Não é com este objetivo que o Mestre veio...Sai para não ter que continuar a discussão.
Há muitos e muitos anos anos me habituei a correr ou marchar 12 Km. todas as manhãs, e em uma delas, enquanto corria, um cachorro grandão, um Akita gigante, se desvencilhou da coleira e, mordendo meu braço esquerdo, quase o destruiu: 1.500 pontos. Deixei de ir ao centro por alguns dias, e quando retornei, o diretor quis saber o que acontecera. Sua manifestação, após o relato, foi. O dono do cachorro tem dinheiro? Sim respondi, muito mesmo. Então, mostra que você é espírita mãs não troxa. Contrata um bom advogado e tira todo o dinheiro dele porque a lei te favorece. Eu também tinha um cão, então, como possuía um convénio médico, limitei-me a aceitar aceitara a oferta que o proprietário me fizera: Ressarcir as despesas com medicamentos.
Por estas razões e outras similares, semanas depois desta ocorrência pediram-me para deixar de frequentar o centro. E quando lhes perguntei se devia procurar outro, a resposta foi: Não, nos cuidaremos de você deixa que os outros sigam a sua estrada.

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